Uma menina linda me fez recordar o carnaval. Ainda em Outubro, eu já sinto a anunciação da carne, o re-ligar com tradições tão ancestrais quanto a prostituição. Lógica malévola essa que permite o desbunde em quatro dias, antes de apiedar-mo-nos de nós mesmos e clamar a misericórdia das cinzas frente ao madeiro (que o cupim não rói). Eu mal posso esperar pela chegança do mar de gente...e ainda é Outubro. Meus pares entendem essa agonia, faz parte da vida da gente (menos de Sandro que agora curte a Love Parade na Alemanha). Esse hiato de tempo roto é que dá a conotação de tristeza e saudade do carnaval; por isso eu misturei Fernando Pessoa e Capiba na canção que eu fiz para inaugurar meu carnaval revolucionário deste ano que já vai embora (mas qual carnaval não revoluciona?). Sem delongas:
Árvore de Maravilha:
Eu quero a carne do impossível entre os meus dentes
quero ser a vã semente que você não vai plantar
para germinar entre meus pares em degredo
(vou contar-lhes um segredo, meu degredo é o carnaval)
Eu quero a estrela mais remota da existência
quero perder a minha essência na essência da ilusão
e ter por máscara a árvore de maravilha
para ela reinar na minha ilha onde reina a solidão
Árvore de maravilha tu és mãe e filha do que um dia eu fui
árvore de maravilha tu és mãe e filha do que um dia eu fui
Eu quero a sorte de ficar na tua lembrança
como um sonho de infância que nunca se perdeu
e retomar o nosso encontro algum dia
sob o signo da alforria que só há no beijo teu
Eu quero deusas, quero a fronte coroada
a moça rosa e dourada que de mim se desgarrou
e entre meus blocos a árvore de maravilha
pavilhão da minha ilha, monumento ao meu amor
Árvore de maravilha, tu és mãe e filha do que hoje eu sou
árvore de maravilha tu és mãe e filha do que hoje eu sou