segunda-feira, outubro 04, 2004

Imagens do Recife Antigo

"Essa cidade é meio bruxa, meio mágica.
Enfeitiça, quebranta,
tira as forças" (Nilo Pereira)

As cidades definem seus homens. Eu sou este que sou porque nasci aqui. O Pátio da Santa Cruz é parte indelegável da minha forma de ver o mundo.


Pátio da Santa Cruz


No Pátio da Santa Cruz, procuro em mim a razão das coisas outras
Sou invadido pelo alheamento dos homens que passam, e que não se dão conta que são homens que passam
Pois sempre nos damos por achar que quem passam são os outros
Até que nos chega a noite e nos relembra que, por sermos tempo, estamos sempre a passar

No Pátio da Santa Cruz, meridiano de mim circunstanciado aos meus sonhos
Cheiro da minha infância brasileira, da infância dos outros que passam
Mas o que sei eu dos cheiros das infâncias dos outros? O que sei eu mesmo da minha infância?
É tudo a intuição de um fio de prata, ligando uma circunstância à outra
É tudo uma trama de nós sem nos darmos conta da trama

(procuro em mim a razão das coisas outras...)

Vem em mim essa intenção maior que a noite, de saber o motivo do alheamento
De decifrar a cor antiga da casa, a posição geográfica da igreja
O símbolo do sol que,
de olhos fechados para nossos olhos abertos,
amanhece apenas para si

De domar aquilo que é um atravessar-me de sensações cotidianas que renascem de si para mim como se eu fosse a passarela de todos os homens
Como se eu fosse o tradutor juramentado das coisas que nunca foram ditas

Lá fora, no Pátio da Santa Cruz;
aqui dentro, no Pátio da Santa Cruz